12/10/2010

PASTORES EXIGEM RESPEITO À HISTÓRIA E À CULTURA

COMUNIDADES PASTORIS DO MUNICIPIO DOS GAMBOS

Ao
Senhor Governador da Província
da Huila
L u b a n g o
ASS: SOLICITAÇÃO DE ESPAÇO PARA TRANSUMÂNCIA DE GADO

C/C
- Sua Excia Sr. Presidente da Republica de Angola
- Sr. Secretario Geral do MPLA
- Sr. Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural
- Sr. Presidente da Assembleia Nacional
- Sr. Ministro da Administração do Território
- Sres Deputados pelo círculo da província de Huíla
- Cda 1º Secretario do MPLA de Huíla
- Sr. Administrador Municipal dos Gambos
- Instituto de Geodesia e Cartografia de Angola
- 9ª Comissão da Assembleia Nacional
- Sres Lideres dos Partidos da Oposição com Assento Parlamentar
- Sr. Comandante Provincial da Policia Nacional na Huila
- Soba Provincial

Sr. Governador;
Enquanto pastores do município dos Gambos estamos muito preocupados com a questão da vedação do parque nacional do Bicuar. Os limites deste parque foram do interesse do governo colonial português de que pouco ou nada tinha a ver com os interesses dos angolanos.
As consequências da vedação da Tunda dos Gambos, para nós, são tão cruéis que comprometem a nossa própria existência enquanto humanos porque é no gado onde está o nosso sustento. O nosso gado pode morrer por falta de pasto.
Queremos deixar aqui bem claras algumas verdades e constatações:

1º - Não queremos tratamento diferenciado entre nós e os fazendeiros que só ocupam grandes extensões de terra sem qualquer proveito. Tudo porque muitos compram espaços de terra como supostas fazendas que acabam por vender mais tarde. Algumas destas fazendas nem se quer estão legalizadas. No meio de tudo isto somos nós que sofremos e queremos pedir que procedimentos deste tipo terminem já.

2º - Não queremos viver aglomerados por causa do comércio de fazendas e porque queremos também proteger o nosso gado e o respectivo pasto.

3º - Não queremos a destruição dos nossos quimbos porque não é para isso que nós combatemos contra o colono.

4º - O Administrador dos Gambos ameaçou o Rei e alguns acompanhantes à cadeia no dia 14.07.2010 para intimidar as comunidades. Nós não nos vamos calar enquanto cidadãos deste país que é de todos nós.


5º - O Administrador dos Gambos impede a preparação e a transumância do gado e ameaça deter todo aquele que insistir nesta prática na Tunda dos Gambos.

6º - Nós praticamos a transumância desde o tempo colonial e sempre vivemos nas nossas terras originais e não é a independência que nos deve mover.

7º - Na área onde pretendem alojar-nos com o nosso gado, isto é, há 1500 metros para cá da mulola é pobre em pasto.

8º - O Sr. Administrador assume que garante 40.000 hectares de terra dentro do parque para o pasto. Porém, esta extensão de terra será vedada e abrir-se-á só em casos difíceis. Porém, nós não conseguimos entender o que o Sr. Administrador considera de casos difíceis.

9º - Por força de hábito o gado está a fugir para as suas áreas habituais de transumância.

10º - Preocupados com esta situação, cerca de 58 (cinquenta e oito) criadores pedimos um encontro com o Sr. Administrador Municipal dos Gambos no dia 03/09/2010 (sexta feira), este não aceitou receber-nos nem se quer saber das nossas preocupações.

Sr. Governador;
Já que o Sr. Administrador Municipal não nos quis receber, preferimos ao abrigo dos artigos 1º, 7º, 14º, 15º nº 2, 21º e 22º da Lei Constitucional da República de Angola, endereçar esta missiva ao Sr. Governador a fim de que as nossas preocupações sejam resolvidas para nossa estabilidade e para a protecção do nosso gado que é, por sinal, o nosso único meio de sobrevivência.

Assim, solicitamos:
a) Que se faça a vedação do parque mas não em prejuízo das nossas comunidades e do nosso gado.
b) Que a vedação inicie 17 km depois da mulola para garantir a transumância de gado, pois a zona tem albergado gado proveniente de Kunene, Namibe e Huila. Também pretendemos manter a cultura dos nossos ancestrais.
c) Que nos seja autorizada a preparação do pasto para a transumância.
d) Em última análise, solicitamos à V/Excia que nos conceda uma audiência para expormos, de viva voz, as nossas preocupações.

Finalmente, terminamos agradecendo, desde já, a plausível colaboração de Vossa Excelência na resolução dos nossos problemas já que “o mais importante é resolver os problemas do povo”.

Comunidade Pastoril dos Gambos, aos 14 de Setembro de 2010.

Subscrevemo-nos com
(Assinaturas anexas)

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