25/02/2011

HUILA: Isaac dos Anjos Proibi Jornalista de Pensar pela Propria Cabeça

Isaac dos Anjos impõe restrições à liberdade de imprensa Jornalistas huilanos «proibidos» de pensar pela própria cabeça Ilídio Manuel Conhecido pelo seu estilo truculento na forma como se tem relacionado com a imprensa e as organizações da sociedade civil, o governador da Huíla deu novamente sinais claros de como os órgãos públicos de comunicação social devem se comportar nos limites dos territórios sob sua jurisdição.
Na semana passada, o controverso governador «proibiu», ainda que de forma indirecta, os profissionais da imprensa estatizada de pensarem pela própria cabeça, coarctando-lhe assim um dos direitos mais nobres consagrados na Constituição: a liberdade de imprensa.
Ao intervir na polémica que envolveu a suspensão dos três radialistas da Emissora Provincial da Huíla, do Grupo Rádio Nacional de Angola (RNA), por alegados actos de indisciplina, Isaac dos Anjos não foi só de todo infeliz, como também tem se mostrado avesso à política gizada pelo Ministério da Comunicação Social, que publicamente tem vindo a defender a necessidade dos meios de comunicação social primarem por uma informação independente, isenta e plural.
Na verdade, não foram os alegados actos de indisciplina que conduziram à punição administrativa dos referidos funcionários públicos, mas foi tão-só por eles exprimiram aquilo que pensa(va)m sobre a (má) governação de Isaac dos Anjos, um político que, convenhamos, tem vindo a revelar-se cada vez mais avesso à crítica e à liberdade de pensamento e de opinião.

No entendimento do governador da Huíla, os jornalistas da mídia pública estavam «proibidos» de tecer críticas às instituições públicas, estando esse papel reservado à imprensa privada.
Para ele, os órgãos públicos deviam limitar-se a noticiar ou a empolar apenas as acções positivas das instituições públicas e dos detentores dos cargos públicos.

Na linha de pensamento de Isaac dos Anjos, os órgãos públicos deviam fazer ouvidos de mercador aos clamores da população mesmo que esta denuncie casos que tenham a ver, por exemplo, com a violação dos direitos fundamentais dos cidadãos, ou a morte de populares à porta dos hospitais por falta de atendimento ou, ainda, o de envolvimento de governantes e políticos em actos de corrupção ou de má gestão das rés pública.
Numa de pretender refrescar a memória dos jornalistas da «pública», o governante advertiu-os que os órgãos para os quais eles trabalhavam tinham um proprietário, sem contudo referir-se especificamente quem era esse proprietário. Não se tratou, pelos vistos, de um mero esquecimento ou de uma omissão involuntária por parte de Isaac dos Anjos.

Não é crível que o responsável máximo da governação na Huíla não sabia exactamente quem é o proprietário desse órgão e de outros que actuam no mesmo segmento do mercado e que são tutelados pelo Estado. A menos que ele quis dizer que o Estado e o partido no poder eram a mesma coisa…

Se não sabia ou se ignorou de forma deliberada, é bom que o governador da Huíla sabia que os órgãos de informação públicos devem ou deviam servir o interesse público, ou seja, da sociedade, já que a sobrevivência financeira desses órgãos é justamente assegurada pelos contribuintes; contribuintes esses que são todos os angolanos que pagam do seu bolso para que haja um serviço público de rádio, de televisão ou de imprensa escrita, daí que lhes assista o direito de exigirem uma informação independente e plural. Uma informação livre das amarras ou dos interesses do partido que sustenta o governo.

»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»» Caixa

Mente pouca arejada

Resquícios do passado monolítico

Depois de ter servido durante vários anos como embaixador de Angola na África do Sul era suposto que Isaac dos Anjos tivesse regressado ao país com a mente mais arejada, melhor formatada em relação à liberdade de imprensa e de pensamento. Pelos vistos, a sua passagem pelo país mais desenvolvido de África de nada serviu para moldar-lhe a mente e adaptá-la aos ventos da mudança e das mutações em curso um pouco por todo o mundo.
Lamentavelmente, são cada vez mais evidentes e preocupantes os sinais que têm vindo a soprar das terras altas da Chela, dando a sensação de que Isaac dos Anjos tem vindo a revelar-se um paladino do regresso as práticas do passado quando a informação era controlada de forma totalitária pelo partido que ainda hoje se mantém no poder.

Muitos retêm ainda na memória a postura manifestamente arrogante do governador da Huíla que em tempos «proibiu» ou, antes, arredou a imprensa estatal de cobrir os despejos de milhares de cidadãos que ocorreram na cidade do Lubango. Daí que a experiência sul-africana de como lidar de forma democrática com a imprensa, quer seja pública ou privada, bem poderia servir de exemplo não só a Isaac dos Anjos, como também para muitos países africanos, que normalmente têm tido os seus nomes maculados nas estatísticas cinzentas das organizações internacionais, por sistemáticas restrições à liberdade de imprensa. E Angola não tem sido uma excepção à regra.

Com o gesto, Isaac dos Anjos, longe de inverter o quadro negro que se tem de Angola para lá das nossas fronteiras, ajudou, antes pelo contrário, a «empurrar» o nosso país ainda mais para o fundo de um túnel pouco dignificante para todos os angolanos.

Sem comentários: