27/11/2012

ACC REAGE A AÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL - GAMBOS


À
SUA EXCELÊNCIA SR. GOVERNADOR DA PROVINCIA DA HUILA
                       L u b a n g o
           
C/C:
            - Exmos Srs Deputados pelo Círculo Provincial da Huila
            - Sr. 1º Secretário do Comité Provincial da Huila do MPLA
            - Sr. Director Provincial da Educação da Huila
            - Sr. Administrador Municipal dos Gambos
            - Sra. Administradora Municipal da Chibia
            - Comunidade da Heva

            ASS: IMPUGNAÇÃO DE ACTO ABSURDO

            Sr. Governador;
            Aceite, antes de tudo, os nossos calorosos cumprimentos de cortesia, augurando-lhe êxitos no exercício das vossas novas e nobres responsabilidades.

            Excelência;
            Inicialmente assiste-nos, o Artigo 52º nº 1 da Constituição da República de Angola, o direito e o dever de, gentilmente, nos apresentarmos para saber quem somos, qual é a nossa missão e visão para, em seguida, informarmos as razões da nossa impugnação:
1. Nós, enquanto ACC temos, como missão, trabalhar com as instituições do Estado, do governo e da sociedade civil para promover a inclusão social, o exercício de cidadania e a cultura dos Direitos Humanos para a utilização justa da terra e dos recursos naturais.
2. Temos como visão ou perspectiva uma sociedade inclusiva, actuante e activa no exercício da cidadania, onde o direito à terra seja garantido e os recursos naturais beneficiem as comunidades, com base no respeito e protecção dos direitos humanos.

3. Somos uma associação cristã e apartidária. O nosso trabalho de advocacia social, consubstanciado no direito à terra, desenvolvimento humano e direitos humanos, é direccionado às comunidades agro-pastoris e periurbanas.
4. Estamos vinculados à Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos da União Africana, de onde ostentamos o estatuto de Membro Observador, desde Maio de 2008, com o registo nº 391.
5. Na simbiose entre o direito à terra, desenvolvimento humano e direitos humanos está o compromisso assumido pelo próprio Chefe do Estado Angolano, visando o combate ao analfabetismo. Aliás, só assim se justifica que este aspecto faça parte do programa do MPLA. 
Nesta perspectiva, com ajuda dos nossos parceiros nacionais e internacionais, implementamos o projecto da alfabetização nas comunidades de Vikolôngwa Mbútwa, comuna do Tchikwatiti, município da Chibia e nas comunidades de Mukuyúmbwa, Kamphanda, Heva, Matala, Nduvângwe e Mambonde, comuna da Chibemba, município dos Gambos.
6. Algumas dessas comunidades, ávidas em aprender a ler e escrever e, entusiasmadas com o processo da alfabetização, tomaram, elas próprias, a iniciativa de construir salas de pau-a-pique para albergar, não só as aulas da alfabetização como também as do ensino formal, caso a Administração local entendesse colocar professores nessas localidades. Foi justamente o que aconteceu na Heva. A sala foi construída pela comunidade e a Administração Municipal ou Comunal, tal como havia prometido antes, apoiou fornecendo as chapas de zinco. Para tais chapas chegarem à escola, houve envolvimento do seculo da área, Sr. Smith e do Sr. Benjamim, gerente da fazenda Vimbo.
Até aí, bravo!...   
A comunidade da Heva alegrou-se muito…
A ACC, enquanto implementadora, congratulou-se…
Os parceiros nacionais e internacionais animaram-se e encorajaram-se...

Porém, foi falsa expectativa, senão vejamos:
            a) Por motivos inconfessos, no dia 14 de Novembro, quarta-feira, do ano em voga, o seculo Smith, com apoio do Sr. Benjamim, enviou um tractor e homens para arrancarem as chapas da sala da Heva coberta há mais de seis meses.
            b) Inconformados com a atitude, no dia 18 de Novembro/2012, sábado, por volta das 13h30m, interpelamos o Sr. Benjamim que apoiou o acto com tractor, a fim de explicar-nos o que, de concreto, estava a acontecer. Benjamim respondeu-nos que o seculo cumpriu apenas com uma orientação (lei, dizia ele) baixada pelo Administrador Comunal da Chibemba com o argumento de que as chapas haviam sido mal direccionadas uma vez que pertencem a escola da Kamphanda que está para ser ampliada, passando de uma para cinco salas.

            Excelência;
            Arrancar as chapas de uma escola (sala de aulas), em plena época chuvosa, para cobrir outra que, por sinal, já tem cobertura e nem sequer está ampliada, em nossa opinião, é um acto absurdo e descabido. O ideal seria colocar um ou mais professores do ensino formal na Heva para caminharem juntos com os alfabetizadores ao invés de arrancar a cobertura, sabendo que os direitos económicos, sociais e culturais são progressivos e não regressivos.
Em nosso entender, existem no meio de tudo isto, motivos ocultos tendentes desencorajar o nosso contributo no combate ao analfabetismo. É uma pena que, em pleno século XXI, tenhamos ainda responsáveis com actos contraditórios à sua própria causa.
            Ipso-facto, nós consideramos esta atitude como sendo de má-fé e, provavelmente, surge em retaliação ao nosso Informe nº 031/GDE/ACC/2012 de 07 de Outubro, que temos a gentileza de anexar. O ensino formal (de base) e a alfabetização em Angola sempre caminharam juntos.
Logo, ninguém pode interpretar-nos de forma errónea se afirmarmos que a Administração local do Estado não está interessada no combate ao analfabetismo que desgraça cerca de 97% da população daquelas comunidades.

Sr. Governador;
A comunidade da Heva está completamente desiludida com este acto absurdo porquanto o seu autor comete uma inconstitucionalidade ao violar os artigos 21º alíneas c), d), g), h), e o) e 52º, nº 2, da Constituição da República de Angola.

Assim sendo, solicitamos obséquio à Vossa Excelência para que:
1º. Seja reposta a alegria daquela comunidade, ávida em aprender, não importa por quê meios.
2º. Sejam admoestados todos os responsáveis que pratiquem actos desabonatórios, questionáveis e incongruentes aos interesses dos governados.
3º. Que as autoridades da administração local do Estado sejam humildes, sensíveis e solidárias aos interesses dos seus governados pois, devem ter consciência de que não estão para manifestar caprichos ou orgulho mas, sim, para servir com base numa governação democrática, participativa e transparente.

Cônscios de que as preocupações apresentadas venham merecer a inquestionável atenção de Vossa Excelência, aproveitamos esta oportunidade para endereçá-lo votos de bom trabalho, saúde, paz e prosperidade.

Lubango, aos 26 de Novembro de 2012. 

             Com elevada estima e consideração

                             O Director Executivo

                      Domingos Francisco Fingo

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