16/12/2014

GTMDH EMITE DECLARAÇÃO EM ALUSÃO AO 66º ANIVERSÁRIO DA DDH


A 10 de Dezembro, o GTMDH realizou uma mesa redonda e no final foi emitida uma declaração.

DECLARAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL E DEFENSORES DOS
DIREITOS HUMANOS, ALUSIVA AO 66.º ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Em alusão às comemorações do 66º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, as Organizações que integram o Grupo1 de Trabalho e Monitoria dos Direitos Humanos, Jornalistas e Defensores dos Direitos, reunidos em Mesa Redonda, emitem a seguinte Declaração sobre os avanços e desafios na protecção dos Direitos Humanos em Angola.

1) Reconhecem que o calar das armas na maior parte do território nacional, marcou um importante avanço no que concerne à proteção dos direitos fundamentais, sobretudo, dos direitos à vida, à liberdade de circulação das pessoas e, consequentemente, a reconstrução/recuperação das infraestruturas públicas;

2) Acreditam que a integração de Angola nos sistemas de Direitos Humanos da ONU e da União Africana, entre outros, é um indicador de reconhecimento dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Consideram ainda igualmente oportuna a participação do Estado Angolano nos órgãos internacionais e regionais com mandatos de promoção e proteção dos Direitos Humanos, bem como a apresentação de Relatórios junto a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas;

3) Reconhecem que o investimento nas infra-estruturas pode promover a melhoria no domínio da promoção dos direitos económicos, sociais e culturais, sobretudo, no tocante à educação, ao acesso à saúde e à segurança social, apesar das deficiências ainda existentes;

Por outro lado, constataram que:
1) O efeito das mudanças climáticas e a falta de políticas públicas para mitigar os efeitos das calamidades naturais contribuem para o agravamento da situação da fome, principalmente, nas comunidades mais vulneráveis da Huíla, Kuando Kubango e Cunene;

2) O esbulho das terras comunitárias por latifundiários tem forçado a deslocação de comunidades e agravado a situação de pobreza;

3) Continuam a assistir com preocupação o aumento de desalojamentos, demolições, expropriações e deslocamentos forçados de população para interesses estatais e privados sem o respeito pelo primado da lei.

4) Um notório retrocesso no exercício da liberdade de expressão e a outros direitos conexos ao exercício da actividade jornalística, como direito a informação, de se informar e de ser informado;

5) Há acentuada falta de contraditório e casos de flagrante censura, não obstante existirem debates em alguns canais privados de televisão e rádio;

6) Há discriminação no tratamento dos diversos actores cívicos e políticos na imprensa pública, notando-se um tratamento privilegiado dos representantes do poder público;

7) Angola assinou e ratificou várias convenções e tratados internacionais e regionais de proteção dos direitos das mulheres, mas a sua eficácia em termos de adopção de medidas internas para concretizar as convenções ainda é um problema;

8) Embora tenha havido a aprovação da Política Nacional para a Igualdade e Equidade do Género em Angola com base nas recomendações da CEDAW, a sua divulgação, disseminação e aplicação ainda é incipiente;

9) A não aplicabilidade do Regulamento sobre a Lei contra a Violência Doméstica e o envolvimento de organismos partidários (como a OMA) no tratamento dos casos de violência contra a mulher, ao invés de se criar uma estrutura governamental nos vários centros urbanos, periurbanos e rurais.

10) Existência de violência institucional por ação e omissão, fragiliza o combate à violência contra a mulher;14)Existem reiteradas violações do direito de reunião e manifestação previstos no artigo 47.º CRA e, a consequente criminalização dos Defensores dos Direitos Humanos, bem como a constante conexão do exercício do referido direito à actos de guerra, desordem e desestabilização social;

11) Existência de detenções ilegais, actos de tortura, execuções extra-judiciais, abusos de poder e da autoridade durante as manifestações pacíficas e sem armas, bem como a criminalização dos manifestantes através da instrumentalização política do Poder Judicial.

12) Não existe vontade política para materialização efectiva dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos previstos na Constituição.

Assim, considerando que o grau de respeito pelos direitos humanos é importante para aferir a legitimidade de qualquer Governo ante o seu povo, as Organizações, Jornalistas e Defensores dos Direitos Humanos, reiteram o seguinte para o Estado Angolano:

a) Condenam os actos de violência policial contra manifestantes pacíficos e sem armas;

b) Condenam os deslocamentos, despejos ou desalojamentos de populações sem o respeito pelo estabelecido na Resolução 37/09 de 3 de Setembro de 2009 da Assembleia Nacional sobre os procedimentos a aplicar nesses casos;

c) Condenam a expropriação de terras e exigem que o acesso e a ocupação de terras por interesse público e privado devem respeitar a cultura, os hábitos, costumes, tradição e a memória dos povos;

d) Reconhecem que embora seja positiva a aprovação do Decreto Presidencial sobre o Registo Civil Gratuito, grande parte das crianças ainda não têm beneficiado, especialmente, as que vivem nas zonas periurbana e rural;

e) Apelam ao Titular do Poder Executivo a criar um programa de emergência para mitigar as calamidades naturais e a fome;

f) Exigem o fim da impunidade e que sejam devidamente responsabilizados pelos actos de tortura, tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, execuções sumárias e raptos praticados contra cidadãos, os agentes dos Órgãos de Defesa, Segurança e Ordem Pública; g) Solicitam ao Titular do Poder Executivo um pronunciamento sobre a actuação dos Órgãos Auxiliares do Presidente da República sobre o exercício dos direitos de reunião e manifestação, os actos de tortura praticados pelos agentes dos Órgãos de Defesa, Segurança e Ordem Pública;

h) Solicitam à Assembleia Nacional que cumpra o papel de fiscalização dos actos do Titular do Poder Executivo e a promover o debate sobre o exercício dos Direitos, Liberdades e Garantias dos Cidadãos previstos na CRA, sobretudo, os direitos de reunião, manifestação, associação e a liberdade de imprensa, com a participação da Sociedade Civil.

Os participantes a Mesa Redonda repudiam veementemente e manifestam o sentimento de solidariedade para com a cidadã Laurinda Gouveia e o cidadão Odair Fernandes (Baixa de Cassange) torturados pelos agentes dos Órgãos de Defesa, Segurança e Ordem Pública, e para com a Associação SOSHabitat pelas alegações caluniosas das quais tem vindo a ser alvo por ocasião do "Seminário Nacional sobre a Problemática da Ocupação de Terrenos" e pelo Ministro da Administração e do Território.

Os participantes reconhem e aplaudem o trabalho abnegado realizado pela Associação SOS-Habitat no domínio da protecção do direito à habitação condigna e à terra.

Finalmente, reafirmam que o exercício das liberdades fundamentais, o respeito pelas diferenças, a responsabilização dos Agentes do Estado que violem os Direitos Humanos constituem elementos importantes para o processo de aprofundamento da democracia, fortalecimento do Estado de Direito e da consolidação da paz.

Os subscritores
Luanda, 10 de Dezembro de 2014.
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1 FORDU - Fórum Regional para o Desenvolvimento Universitário, Associação OMUNGA, PMA - Plataforma Mulheres em Acção, AJPD - Associação Justiça, Paz e Democracia, ACC – Associação Construindo Comunidades, MBAKITA-Missão de Beneficência Agropecuária do Kwando Kubango, Inclusão, Tecnologias e Ambiente, ML - Associação Mãos Livres, MOSAIKO-Instituto para Cidadania, SOSHabitat Acção Solidaria, AJUDECA- Associação Juvenil para o Desenvolvimento Comunitário de Angola e Fundação Open Society-Angola.




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